Para nós, ocidentais, podermos ter acesso a uma múltipla variedade de medicamentos à nossa disposição (discussão sobre os genéricos à parte), muitos animais e seres humanos tiveram, na maioria das vezes, de sofrer, chegando a pagar com as suas próprias vidas. Quando falo de seres humanos, falo de seres humanos com poucas hipóteses de se defenderem. Falo de pessoas pobres que vivem em países do 3º mundo, maioritariamente na África, Ásia e América do Sul. Este flagelo raramente chega a ser notícia de telejornais, porque assim convém a alguns. A indústria farmacêutica, que é das indústrias mais ricas e poderosas em todo o mundo, comete abusos cruéis como o que passo a transcrever abaixo a partir da introdução do corajoso livro "Cobaias Humanas - os testes de medicamentos no terceiro-mundo" - de Sonia Shah. A autoria desta introdução é do Dr. Fernando Nobre.
«O livro de Sonia Shah, “As cobaias humanas – os testes de medicamentos no 3º mundo”, conta uma história de terror, infelizmente verídica! Ainda há pouco tempo, um amigo médico africano, com elevadas responsabilidades num organismo das Nações Unidas, contou-me as enormes pressões a que foi submetido para que desse cobertura ética e científica a um ensaio terapêutico que não respeitava minimamente as normas e os cânones exigidos pelos protocolos internacionalmente aceites sobre ensaios medicamentosos... O livro de Sonia Shah, fruto de uma investigação aprofundada e séria cita, e bem, nomes da indústria farmacêutica que, muitas vezes sob a cobertura de empresas de fachada, “testas de ferro”, praticam uma das mais abomináveis violações dos Direitos Humanos ao pôr em risco a integridade física de seres humanos, quando não a própria vida, sem o seu informado consentimento.
Essas actividades ilegais, verdadeiros crimes bioéticos, são sempre praticados junto dos grupos humanos mais miseráveis dos países mais vulneráveis, pese embora também nos países “mais” desenvolvidos tais actividades já tenham sido levadas a cabo no passado, em prisões e em asilos para deficientes psíquicos e mentais. Ao fim e ao cabo, a sinistra epopeia dos médicos malditos nazis durante a II Guerra Mundial não foi assim há tanto tempo…
Os desvarios bem documentados por Sonia Shah, que também dá rosto humano a muitas das esquecidas vítimas, são sempre eticamente condenáveis, porque como já referi, são verdadeiros crimes que deveriam ser exemplarmente punidos. Esses crimes só são possíveis, porque as empresas e as pessoas que os praticam estão enfermas com os vírus da ganância e da indiferença que as incentivam a praticar actos bárbaros na procura de ganhos financeiros astronómicos mesmo, e sobretudo, à custa de vidas alheias, porque miseráveis e anónimas.
Este livro fala de uma imoralidade monstruosa praticada contra vidas indefesas e contra a consciência humana. Esses pseudo-testes medicamentosos são levados a cabo com a exclusiva finalidade do embuste e do lucro sem limites, violando brutalmente os protocolos e preceitos ético-científicos internacionalmente conhecidos, junto de populações miseráveis como já referi, mas que faço questão de repetir, em países onde muitos responsáveis políticos e administrativos, médicos ou não, se mostram particularmente sensíveis e moldáveis à corrupção desses vampiros encobertos de “respeitabilidade”…
Quando seres humanos são vistos como meras cobaias sem qualquer direito perante empresários e cientistas gananciosos e amorais, enclausurados nas suas torres de marfim está mais do que justificado o livro corajoso que temos entre mãos.
É essencial relembrar que, como está escrito nos princípios de base da Declaração de Helsínquia, o bem individual da pessoa deve sempre prevalecer, em qualquer ensaio clínico, sobre os interesses da ciência e da sociedade. É também útil relembrar aos médicos e enfermeiros que a nossa razão de ser é o desejo de atenuar o sofrimento e de lutar pelos nossos doentes!
Sonia Shah, com este livro, pôs o dedo numa das chagas vivas do nosso tempo. Faço votos para que as pessoas leiam este livro, pois esta, como outras chagas da nossa Humanidade, têm cura. Para tal, bastará que não olhemos para o lado e nos empenhemos todos na luta contra a miséria humana e o subdesenvolvimento, pântano onde todas as sanguessugas se deleitam. Só com o fortalecimento da Cidadania Global Solidária, última muralha contra os horrores e os terrores como os que são aqui magistralmente retratado por Sonia Shaha, será possível pôr-se termo definitivamente a este tipo de desvario.
Por isso, obrigado e bem haja, Sonia! Este seu livro é mais uma pedra na edificação de uma Humanidade de valores que sonho, que todos sonhamos….»
Confesso que só li o livro na "diagonal", mas já o tenho marcado para uma das minhas próximas e aprofundadas leituras.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Cobaias Humanas no século XXI
Marcadores:
Indústria Farmacêutica
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Depois de escrever para você, o link de mensagens abriu, mesmo assim, sejamos amigos também.
Muito bom seu espaço, com notícias de qualidade, é disso que precisamos em Blogs, meus cumprimentos,
Efigênia Coutinho
Triste realidade esta que por aqui fica descrita. Infelizmente, muita gente prefere não querer olhar para esta "oculta" temática que de Humano muito pouco tem!
Para engordar alguns, curar uns
poucos,têm têm que morrer muitos,
o mundo avança nalgumas coisas
noutras está igual como estava há
uns quinhentos anos.
Boa tarde Efigênia,
Gostaria de agradecer o seu elogioso comentário, o qual nos deixa muito honrados. Agredecemos também o facto de se ter tornado seguidora do nosso blogue, esperamos "ouvi-la" mais vezes.
Cumprimentos,
HG
Gostaria de adquirir esse livro...Alguém sabe informar se já encontra-se no Brasil? Não estou conseguindo achar. Um abraço a todos.
Postar um comentário