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terça-feira, 24 de março de 2009

Em torno de Lyotard - A Condição Pós-Moderna


A obra que vos trago hoje aqui ao O.Shakers é da autoria do pensador e filósofo Francês Jean François Lyotard, e é uma reflexão interessantíssima sobre o modo como o homem passou a tratar a questão do SABER, nomeadamente a partir do final da 2ª Grande Guerra. SABER esse que passou a ser uma questão essencialmente de desenvolvimento técnico, colocando de parte as grandes questões sobre a condição da Humanidade.
Olhando para a nossa contemporaneidade, percebemos claramente o alcance das ideias de Lyotard já na altura, e a actualidade das mesmas agora que estamos no início do Séc.XXI.

De seguida um resumo da obra em questão, a qual aconselho vivamente a todos os nossos leitores.


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A Condição Pós-Moderna de Lyotard é um livro escrito no início da década de setenta a pedido de estudiosos canadienses, para que Lyotard fizesse suas considerações sobre as alterações que advinham das estruturas económicas, políticas e filosóficas, principalmente nas décadas que se seguem à Segunda Guerra Mundial, mas que se permitem perceber nos anos sessenta, com mais ênfase.

A concepção principal da crítica de Lyotard faz-se no âmbito do saber (Epistemologia). Para ele após a segunda Guerra, com o estabelecimento da produção tecnológica em maior escala, principalmente devido à corrida armamentista e à necessidade de produção industrial para abastecimento do mercado de consumo americano e europeu, que lutavam contra a URSS, o saber adquire como fim principal a produção de tecnologias.

Não mais importa que se utilize o saber na construção de teorias especulativas sobre a condição da humanidade, sobre a finalidade da filosofia, ou sobre questões abstratas, que não tratem diretamente de produção de técnica e de produtos. Neste momento o saber adquire função estritamente técnica. A formulação de teorias sobre produtividade e tecnologias é o único saber importante, e este extrato já está determinado no início da década de setenta. Já se pode observar a queda das perspectivas de teorias sobre a humanidade como um todo, de unificação desta, ou mesmo da famigerada liberdade mundial, do projeto iluminista.

Não há mais espaço para a especulação metafísica e, assim, não há o porquê de se discutir sobre a liberdade da humanidade. Muito menos, agora, ela pode ser vista como um todo. É o que se chama de fragmentação. Na Condição pós-moderna não há previsão de todo, mas de fragmentações grupais, preocupadas com sua segurança.

Ora, a conclusão mais lógica disto é que não são mais possíveis os discursos emancipatórios (de liberdade e humanidade) pois o pensamento é direcionado para uma perspectiva de produção e tecnologia. Na realidade o que há é a reverenciação da técnica; uma paixão descontrolada pela ciência.

Neste momento, deixa de ser a ciência um fim para o bem humano e passa o ser humano a ser um mero fim para o desenvolvimento científico. O ser humano passa a ser meio. Por isso a dificuldade e quase que a extinção ou impossibilidade de se construir um pensamento ideal; não se consegue mais construir ideais; os estudantes não mais são formados por uma perspectiva idealista de libertação. Agora, estamos todos vinculados à paixão pela ciência e pelo consumo.

Lyotard não entra especificamente na questão do consumo mas este tema está atrelado à questão pós-moderna, como em Jameson ou Marcuse, por exemplo.
O que há , fazendo uma ponte com estes autores, é uma falta de liberdade satisfeita, como diz Marcuse, pois o homem pensa ter no mercado de consumo a satisfação de suas necessidades pessoais mais íntimas, o que não permite que ele construa um pensamento crítico sobre as condições estabelecidas. Na verdade ele está tão vinculado à realidade do sistema que cessa sua capacidade opinativa, sobre as verdades vividas e sobre a opressão que vigora.

Já Jameson trata do consumo como forma de "esquizofrenia". O consumidor é um ser dependente do mercado para manter suas ilusões aquecidas, fugindo da realidade de ser, na verdade, alguém sem personalidade ou relacionado com o tempo. Ele vive intensamente o presente, sem passado ele tenta satisfazer deseperadamente o seu vazio interior.

Lyotard, em sua crítica à pós-modernidade, está envolvido em todas estas questões, mas enfoca a questão do saber. Como a alienação da crítica ao consumo, vinculando o consumidor à ideologia deste consumo.

A ideologia da tecnologia, caracterizada por formas de aperfeiçoamento eterno e constante, dão a impressão ao homem de que o saber técnico é a realização da humanidade. Seja nos lares comuns, frente à televisão, ao computador, mas principalmente nos âmbitos universitários o saber instala-se como fonte de produção de tecnologia. Esta tecnologia tem a função de atender à demanda de produtos, máquinas e armas a serem produzidas. Lyotard chama a isto de deslegitimação.

O saber das instituições está vinculado a uma nova forma de saber: o optimizatório. Todo o saber válido é um saber que pode ser manipulado como uma fórmula, ou seja, pode este saber ser constituído, armazenado e reformulado, como um base de dados de um computador. Não se pode fazer isto com um pensamento autónomo e metafísico especulativo. Mesmo porque este saber tem como fundamento o ser humano e não a tecnologia. Esta é apenas produto secundário ao ser humano.

Por fim, Lyotard encerra a questão com a seguinte ideia: "não se compram máquinas e cientistas para saber a verdade, mas para alimentar o poder".
Hoje, a ideologia que fundamenta a ciência vem desta perspectiva de ser - a ciência como um fim em si mesma. Na verdade a tecnologia é um meio para o avanço humano. O avanço científico sem avanço do ser humano é apenas um caminho para a "Matrix", onde a máquina é suprema.

Hoje construímos armas para lutar no século XXI, prevendo desde logo a repetição de todos os erros humanos. A ciência não está aprimorando-nos, mas apenas aprimorando os nossos erros. Devemos lembrar que a ciência, insiste Lyotard, é apenas meio e não um fim! Diz ele ainda "não se busca a verdade com a ciência, apenas o poder". Qualquer coincidência desta frase com a realidade atual não será mera coincidência."

Fonte: Shvoong

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