Durante dezenas de anos fomos levados a pensar num Salazar cinzento e sombrio, mas eis que agora a SIC e a Revista Sábado vieram-nos mostrar um outro lado de Salazar mais variegado e mais atreito às paixões humanas, mormente quando envolvem carne. A revista Sábado ainda foi mais longe do que a minissérie da Sic sobre a vida privada de Salazar apontando-lhe 12 casos amorosos. Mas nenhum dos casos se refere às suas "actividades" dentro do seminário, talvez se investigassem melhor descobrissem mais qualquer coisa sobre aquela "estranha" relação entre ele e o Cardeal Cerejeira.
Felismina de Oliveira foi a principal responsável pela grande desgraça que afligiu Portugal durante quarenta e tal anos, isto porque afastou Salazar duma vida de sacerdócio, seduzindo-o. Não bastando este ter sido um pecado nada venial, a tipa depois de ter "levado com os pés" ainda continuou pelo resto da sua miserável e desprezível existência "arrotando" relatórios, através dos quais delatava os inimigos do Estado Novo.
Foram tantos os casos amorosos, porém o objectivo deste post não é o de coscuvilhar a vida privada desse biltre. Esse tipo que governou Portugal com mão-de-ferro durante 4 décadas só foi por uma única vez eleito democraticamente e foi num concurso de má memória intitulado "O Melhor Português de Sempre" pelos seus primitivos sequazes. Pena que aquele atentado à bomba que ele sofreu não ter provocado o dano esperado. Aliás, quase todas estas figuras tirânicas do séc. XX, exceptuando-se Mussolini safaram-se, quase sempre, a atentados contra a sua própria vida. Só Hitler sofreu 43 infrutíferos atentados, justificando-se assim, com uma legitimidade divina que lhe permitiu continuar a cometer as atrocidades que cometeu. Ainda dizem que há justiça divina!
Eu olhei para aquela minissérie (tão colorida e romantizada dum homem e duma época tão obscura) como uma simples metáfora. As suas meretrizes foram apenas a metáfora da nação portuguesa, que ele tão bem fornicou.
Com uma abordagem mais literal deveriam ter transmitido, também, a censura, a violação de correspondência, as escutas telefónicas, os casos de tortura (queimadelas de cigarros, "a estátua", tortura do sono, os espancamentos, os assassinatos, entre outros...), prisões políticas, os campos de concentração, a falta de liberdade de expressão, o apoio aos nazis numa primeira fase da II Guerra Mundial, a fome, a miséria, as desigualdades, o atraso económico, cultural, social e intelectual da população portuguesa que ainda hoje são bem notáveis. Mas esse não seria o "outro lado da vida de Salazar" seria apenas o lado que toda a gente conhece, ou será que não!? A memória do povo é curta, já ouvi dizer, e com este tipo de programação parece que nos querem programar para olhar para aquela figura monstruosa e ver apenas um ser humano.
Nos tempos difíceis que correm, infelizmente, ouço cada vez mais comentários do estilo: "(...)isto se fosse no tempo de Salazar não acontecia!!"; "(...)no tempo de Salazar é que as pessoas viviam bem!!"; "(...) faz-nos falta é outro Salazar!!". Este tipo de Salazarismo atávico é uma das facetas mais marcantes do ser Português, é o eterno "olhar para trás" ao invés do "olhar em frente". Tal como se esperou pela vinda de D. Sebastião "numa manhã de nevoeiro" para nos libertar das garras dos Filipes, durante quase 60 anos, houve quem agisse e os expulsasse para Espanha. Esta gente que não passam de ignóbeis parasitas, repoltrearam-se durante os tempos da Ditadura, para poderem agora aproveitar a liberdade que lhes foi potenciada por homens corajosos que deram a sua vida pela Democracia em Portugal (ou pela suposta Democracia). Por vezes dou por mim a pensar que deveria ser criado um colonato governado por um ditadorzeco, quem sabe talvez na ilha das Berlengas, para onde este tipo de pessoas poderia ir viver feliz sem gozar da pouca liberdade que ainda nos resta. Mas isso seria injusto, porque a liberdade deverá ser para todo o ser humano, mesmo que por mais inimigo dela que seja. Pouca Democracia é melhor do que nenhuma Democracia. No entanto não nos devemos contentar, mas sim "olhar em frente"...
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
O Salaz Salazar
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3 comentários:
Lamento, mas considero que o problema actual de portugal é a democracia! E mantenho a opinião enquanto houverem maiorias unidas.
O problema em Portugal é que vivemos numa autêntica Anarquia no mundo da alta finança, numa Democracia para as classes mais altas e numa Plutocracia opressora para as classes mais baixas, por vezes estas sentem uma pequena luz de Democracia quando a crise é menos pungente.
Caro JP, tente imaginar o que seria uma política reformista profunda sem maiorias...!!! A Anarquia existia quando tinhamos sistemas bancários protegidos por lavagens de dinheiros e agora temos um "ataque" feroz a todas as classes, na tentativa de uma equidade necessária à escala dos seus rendimentos face aos impostos pagos e recebidos. Não é fácil e nada se faz de um dia para o outro... Mas nem tudo são rosas...!
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