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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Do Provincianismo em Portugal

Chegados ao fim de um ano político recheado de momentos eleitorais, gostaria de trazer aqui ao O.Shakers uma característica que muito se fez notar em todos os actos eleitorais aos quais o dito "povo", a "nação" foi chamada a se pronunciar: o Provincianismo!

Se tivesse que caracterizar numa única palavra certas campanhas eleitorais que foram levadas a cabo nestes últimos meses, certos posicionamentos e pensamentos políticos apresentados à população em geral, essa palavra seria certamente - Provincianismo!

O provincianismo, é hoje de facto uma das principais características do pensamento político de muitos cidadãos que têm ao seu cuidado a responsabilidade de gerir as expectativas dos cidadãos que neles confiaram o seu voto nas urnas.

O provincianismo português, é por ventura neste século a grande heritage social que muitos pretendem ver seguida por parte das gerações futuras, sempre na perspectiva que essa herança, essa visão pseudo-moderna, implicará inexoravelmente o futuro da sociedade, o caminho do próprio "desenvolvimento" e "progresso".

Fernando Pessoa, sobre o Provincianismo teceu algumas considerações interessantes que julgo importante trazer aqui à reflexão. Dizia o próprio:

" Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro.

O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz."

Com esta afirmação, Fernando Pessoa diz muito! E o que de modo conciso e muito objectivamente retrata é a condição da qual se alimenta a atitude provinciana: a Inconsciência! A inconsciência de nos julgarmos modernos, a inconsciência de nos sentirmos e julgarmos superiores, a inconsciência enfim de nos sentirmos civilizados e evoluídos quando de facto não o somos.

Uma das características marcantes do provinciano, afirma Fernando Pessoa, é "o entusiasmo e admiração pelos grandes meios" no fundo aquilo que ele julga aparentar ser moderno pelo simples facto de ser simplesmente Grande.

A título exemplificativo deixo a seguinte foto relativa à campanha eleitoral para as autárquicas recentemente finalizadas, relativa à actual força política presente no executivo municipal e também vencedora das últimas eleições no concelho e cidade onde presentemente resido, Loulé!


Fonte: João Martins, «MacLoulé»

"Se há característica que imediatamente distinga o provinciano, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas."

Fernando Pessoa, in "O Provincianismo Português"

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