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terça-feira, 11 de agosto de 2009

A valorização da mediocridade e do individualismo

Na passada semana, lia um artigo no jornal "i" do Nobel da Economia de 2008 - Paul Krugman, sobre a questão da premiação daquilo a que o próprio define como "os maus actores".

Esta é uma questão que está intrinsecamente ligada com o actual estado do sistema financeiro mundial, na medida em que segundo Krugman,"A especulação financeira pode e deve servir propósitos úteis. Mas muito do que se faz em Wall Street não traz qualquer benefício social, e pode mesmo ser destrutivo".

Na frase de Krugman, é fácil identificar dois "eixos" que considero bastante reveladores daquilo em que de facto se transformaram os actuais sistemas financeiros mundiais: sem benefícios sociais e (como se acabou por constatar) destrutivos.

Não quero com isto afirmar que, existem sistemas infalíveis. Claro que não. Aquilo que pretendo focar, e que o próprio Krugman também refere, é simplesmente o facto de que para muitas empresas, independentemente de as mesmas serem óptimas naquilo que fazem (no caso em análise, empresas ligadas ao mundo bolsista), independentemente de as mesmas gerarem lucros gigantescos (mesmo que não tenham qualquer ajuda estatal ou financeira para tal), a sua actividade e o modo como actuam é prejudicial para a sociedade em geral.

Afirma então Krugman:


"A especulação financeira pode servir um propósito útil. É positivo, por exemplo, que os mercados de futuros forneçam um incentivo para armazenar combustível antes de o clima arrefecer e para armazenar gasolina antes da época estival dos passeios de carro.

Mas a especulação baseada em informações que não estão disponíveis ao grande público é um assunto completamente diferente. Como o economista da UCLA Jack Hirshleifer demonstrou em 1971, essa especulação combina frequentemente "lucro privado" com "inutilidade social".


Ora, a ânsia pelo lucro a qualquer preço tem conduzido a que cada vez mais, falar de "lucro privado" é sinónimo de falar-se de "inutilidade social", o que é mau. Isto porque, propicia discursos que encaram o lucro privado como algo nefasto, hediondo e não mais do que o resultado de uma prática corrente de exploração do mais fraco.

Sabemos que em muitos casos -infelizmente - essa é uma realidade inerente à conduta empresarial de muitas empresas. Contudo, na minha modesta opinião, o cerne destas visões mais extremadas do mundo da economia e das finanças, reside mais na situação criada pelos ditos "maus actores", os quais canalizaram exclusivamente para si todo os grandes lucros, sem a mais pequena objecção ética e moral face ao meio social em que os próprios estão inseridos criando desse modo, um profundo e nefasto desiquilíbrio social (tomemos como exemplo, aquilo que se passa actualmente com as ditas «classes sociais»). Ainda por cima, com um dado agravante: a premiação dos que nos empobrecem.

Pegando uma vez mais nas palavras de Krugman, para terminar,
"nem a administração nem o nosso sistema político em geral estão prontos a enfrentar o facto de que nos tornámos uma sociedade em que os grandes lucros vão para os maus actores, que premeiam principescamente aqueles que nos empobrecem."

Quantos Madoff's, andarão por aí?

2 comentários:

Anônimo disse...

Um post com muita qualidade e actualidade sr. Ricardo.
Cumprimentos

Fernando

Ricardo Tomás disse...

O nosso Obrigado pela visita e pelo comentário. Seja sempre benvindo aqui ao nosso espaço de partilha de ideias e convicções!

Abraço