Deixo-vos aqui o Editorial do Público do passado domingo, assinado por Nuno Pacheco.
"Correu esta semana alguma tinta, embora não muita, por causa das declarações de Alberto João Jardim sobre uma eventual proibição do comunismo, a par do fascismo, na Constituição portuguesa, numa futura revisão. A Madeira vai discutir dia 22 o projecto que, como já se escreveu, não tera nenhuma novidade face a propostas anteriores mas que agora, por via das declarações públicas do líder madeirense, ganhou alguma projecção mediática. Comedida, como a tinta gasta, porque se presume que Jardim vale o que vale e muito do que diz (não do que faz) acaba por ser irrelevante.
Mas o que disse realmente Alberto João a propósito do tema? Há um registo vídeo (ver videos.publico.clix.pt), onde é possível ouvi-lo a garantir que "não é justo que a democracia "não tem necessidade de proibir qualquer ideologia que seja" (sic). Mas, há sempre um "mas", a Constituição da República "deveria proibir as ideologias totalitárias", ou seja, "os fascismos de direita e os fascismos de esquerda". Isto porque o incomoda que à esquerda haja quem não diga claramente se aceita a democracia representativa e o pluralismo parlamentar (embora na Madeira, disse "eles" façam o jogo da democracia).
O problema de Jardim é, sem coragem para claramente o assumir, o fantasma do comunismo. PCP, Bloco e organiszações congéneres. Se fossem proibidos por lei, ele ficaria aliviado, o que só honraria o PCP e o Bloco por serem, agora numa democracia que se crê e quer consolidada, alvo de novas perseguições e autos-de-fé.
Num livro de 1997 só agora editado em Portugal, o escritor Imre Kertész (não diremos húngaro porque ele não gosta, embora o seja, mas podemos dizer que a sua condição judaica o levou a ser preso pelos nazis em Auschwitz e Buchenwald ainda muito jovem, com 14 anos) escreveu o seguinte: "A estúpida pergunta sobre se vemos diferença entre fascismo e comunismo, podíamos dar esta resposta breve: o comunismo é uma utopia, o fascismo é uma prática - o partido e o poder é quanto os reúne e faz do comunismo uma prática fascista." (Um Outro - Crónica de uma Metamorfose, Ed. Presença, pág.82).
Jardim, que será tudo menos estúpido, sabe com certeza que assim é. Os muitos comunistas que ao longo de décadas lutaram e morreram pela liberdade, sua e dos outros, não o fizeram em nome da opressão social, mas sim de uma utopia de traços igualitários e humanistas. A tragédia funesta que se seguiu deveu-se, em muito, à degenerescência alquímica cruamente retratada por Kertész. Em Portugal, onde os comunistas se integraram de forma satisfatória no jogo democrático, a sugestão de Jardim soa a insulto. Sobretudo vinda de quem, em matéria de democracia, já há muito viu estalarem os vidros que lhe servem de telhado."
Um comentário:
Este jardim de estremeira é igual a si mesmo vejam este democrata de meia tijela. Parabéns pelo post HG
sinco estrelas
estou farto deles
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