Opinion Shakers Headline Animator

sábado, 29 de novembro de 2008

O verdadeiro problema da Educação

Muito se tem falado nestas últimas semanas sobre a Educação e do conflito entre professores e Governo. Como o tema já começa a cansar de ouvir - isto porque muito se fala, mas poucos acertam - deixo aqui à consideração dos nossos leitores uma perspectiva sobre o tema de Medina Carreira, da qual eu próprio subscrevo, e que muito pouca gente da praça pública tem na realidade focado. O problema é bem maior do que guerrlhas quanto a critérios de avaliação entre professores e ministra da educação / Governo de Sócrates. E quando, em vez de se procurar "ver o todo" optar-se por apenas incidir o focus mediático naquilo que é apenas uma pequena parte do problema, não há política de Educação nenhuma que possa ter sucesso. Aliás, diria mais, eis-nos chegados à "Era da mercantilização educacional", onde o combate ás estatísticas negativas é feito a qualquer preço, nem que para tal seja preciso baixar a fasquia ao nível da exigência dos conhecimentos adquiridos.

Aqui fica um excerto duma entrevista de Medina Carreira á SIC Notícias e ao jornalista Ricardo Costa.

"No que respeita à Educação há muita gente equivocada, porque o esforço financeiro de Portugal é, em termos relativos, dos mais elevados da União Europeia/15.

Em 2001 registámos 5,9% do PIB, ficando acima de nós apenas a Dinamarca (8,5%), a Suécia (7,3%), a Finlândia (6,2%) e a Bélgica (6,1%).
Outros consagram à Educação uma fracção do PIB ainda mais baixa que nós: a Áustria, a Alemanha, a França, a Itália, o Luxemburgo e o Reino Unido. E com melhores resultados.

O nosso problema, quanto à Educação, é pouco financeiro e muito político. Deve ter-se presente, desde logo, que o Estado sustenta um sistema de instrução em que mais de metade dos alunos não frequenta a escola para trabalhar e para aprender: ela é apenas o lugar em que as famílias "depositam" os filhos para efeitos de guarda mais segura.


Acresce que a indisciplina nas aulas é regra e nenhum professor, por melhor que seja, pode ensinar nas condições agora vigentes na maioria das escolas. Que os programas são extensos, irrealistas e inadequados. Que os manuais são, demasiadas vezes, instrumentos de muito baixa qualidade. Que a ausência de exames nacionais mais frequentes e mais rigorosos permite que se permaneça na escola longo tempo sem aprender e sem trabalhar. Que os professores não prestam contas da sua competência técnica para ingressar no ensino. Que a direcção colegial é irresponsabilizante e projecta para as funções de gestão os que vão satisfazer mais interesses dos docentes e menos dos alunos.

Nada disto é objecto de debate sério e de reformas consequentes.
Sem debater problemas como estes, o dinheiro gasto com a Educação , em grande parte, um mero desperdício. Na Educação reflecte-se afinal, um perigoso vício de toda a nossa política: os governos são aplaudidos se e na medida em que canalizam mais dinheiro para certos sectores. A "paixão" de Guterres pela Educação limitava-se a atingir 6% do PIB! Já estamos nos 5,9%, com os resultados desastrosos conhecidos. Não se pergunta por aqueles, não se presta contas e, como todos têm mandatos curtos, desaparecem irresponsavelmente do palco político.

Mudam os governos e a Educação não regista progressos qualitativos, com consequências negativas que se arrastarão durante muitos e muitos anos.
Enquanto não houver uma mudança radical neste domínio, iremos ficando mais atrás na cauda da Europa: a escola terá de ser, como usualmente era, um lugar em que se ensina, se trabalha e se aprende. Agora e como está, serve muito pouco e mal. A obsessão é a quantidade, a estatística. A qualidade e o mérito não importam".

Este é verdadeiramente o grande problema da Educação, na minha opinião!

Nenhum comentário: